sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Um domingo no parque

3 de maio de 2009. É domingo, e dia da Virada Cultural.

Transito livremente pela 23 de Maio. São 10h30 da manhã. Não queremos chegar tarde a Pinacoteca, pois o estacionamento fica lotado. 

Mal me aproximo, vejo que entrar lá será missão impossível. Toda a lateral já se acha ocupada por carros, cercando a quadra toda. É claro que não pode ser só pela Pinacoteca, mesmo com exposições de Fernand Léger e o Brasil visto por fotógrafos franceses - deve haver algum grande evento por ali.

E há mesmo: como primeiro domingo do mês, acontece o grande encontro de carros antigos e clássicos, em frente ao Jardim da Luz. Ali é que não dá para parar, menos ainda entrar, está cheio.

Mas, indo pouco mais em frente e atravessando o pontilhão da estação, estaciono tranquilamente, na Brigadeiro Tobias.

Impossível resistir à atração, compartilhada com milhares de pessoas. Assim, resolvemos dar uma passeada pela área, antes da Pinacoteca. Músicos peruanos tocam, uma bela menininha ensaia uns passos de dança junto a eles.

Bem diante do histórico prédio, o espaço foi reservada para gigantes americanos: Cadillacs Rabo de Peixe, Thunderbirds, Camaros. Os menores, Fuscas e Kombis, foram para a outra extremidade da estação.

Mas a exposição, como a multidão, segue parque adentro. Lá estão alguns dos exemplares mais antigos, como um Ford 29, igual ao primeiro carro de meu pai.

Mais que tudo, o que me chama a atenção é a alegria contagiante do povo, que invade as velhas alamedas, cercadas por jaqueiras e figueiras seculares. Há muito não via um espetáculo assim, pois normalmente o parque é melancólico e mal frequentado, e muita gente não se arrisca a explorar seu belo interior.

Mas, hoje, é só festa. O que me transporta há muitos anos atrás, numa comemoração belíssima.

Seria aniversário da cidade? Foi em 66, 67... era noite e o parque estava aberto, todo iluminado por seus velhos lampiões. 

Era mágico o contraste da multidão com os grandes espaços, das belas luminárias com a escuridão das árvores. As estátuas, nos lagos, iluminadas como numa festa da antiga Roma.

Todo o ambiente era nostálgico. Nos coretos, orquestras executavam valsas, polcas e maxixes. Carros antigos desfilavam e estacionavam por ali. Vendiam-se bengalas e chapéus palheta. Parecia termos voltado um século no tempo. Só faltaria estarem todos de gravata borboleta. 

E mais, o clima era de um quadro impressionista, Renoir e Degas gostariam de tê-lo pintado, com suas luzes e sombras. A Belle Époque parisiense retornando numa bela noite paulistana! 

Nunca, desde então, contemplei um espetáculo tão festivo no velhíssimo parque. Hoje, tantos anos depois, o evento recordou-me aquela noite.

Mesmo sem paletó e gravata, sem palheta nem bengala, adentremos 
a Pinacoteca, que, outra surpresa, hoje é grátis. 

São Paulo não é Paris, mas às vezes também é uma festa.

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