sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Happy hours no Paribar

Caminhando-se atrás da Praça Dom José Gaspar, topava-se com um meio bloqueio de calçada.
Corpos estranhos: cadeiras, mesas, pilastras de um toldo. E mais, gente sentada ali, batendo papo e bebendo como se não estivessem em praça pública. Muitos pareciam ser velhos conhecidos, quase como uma família, pois iam lá quase todo santo dia.

Quando trabalhei nas imediações, quase não freqüentei o Paribar. Minha turma preferia uma galeria na Sete de Abril, aquela que tem um operário em bronze no portal. Galeria Ipê, provavelmente.
Eu quase não ia lá, também.

Tive maior intimidade com o Paribar quando trabalhei na Vieira de Carvalho.
Lá, um chefe, revoltado com o que supunha ser boicote por parte da firma, passou a freqüentá-lo todas as tardes, e insistia para que o pessoal se juntasse a ele.
Na verdade, a empresa ia mesmo mal, e em grande parte, por culpa dele. Pouco serviço, então às vezes nós o acompanhávamos em seus uísques.

De repente, surgiam figuras conhecidas, em grande euforia: José de Alcântara Machado, o ator Raul Cortez... O Paribar era o refúgio de todos os estressados da época, dos carentes de calor humano, do Centro de todos os Centros da cidade.
Há muitos anos estava ali, plantado no final da praça, e parecia que ficaria até o final dos tempos, imune mesmo aos pedintes, que cada vez apareciam em maior número, espantando para dentro dos abres parte da clientela.

Foi por isso que, quando lá estive com minha esposa, então namorada, escolhemos seu cálido interior, parecido com um bistrô parisiense. Com vinho rosé e as pipocas de oferta da casa. Parecíamos estar flutuando, nossa alegria espoucando como as pipocas, ou bolhas de champanhe, se champanhe estivéssemos tomando. Éramos ainda jovens e inconseqüentes; o mundo, e naquele particular instante, o Paribar, era uma festa.

Depois o trabalho me levou para outras latitudes, com as agências de propaganda fugindo do Centro como o diabo da cruz. Perdi o contato com o Paribar, e com a própria região da Sete de Abril.

Quando lá voltei, tinha fechado. Era um dos símbolos da São Paulo central em grande estilo, sofisticada, mas acessível, agradável e aberta a todas as pessoas de boa vontade.
Não havia mais o que fazer, o Centro havia sido removido para outras regiões, sendo substituído por uma nova e também populosa camada, mas de qualidade muito inferior.

O Paribar não acompanhou a mudança, e preferiu naufragar, provavelmente com seu capitão, em plena praça. Mas em grande estilo.

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