sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Como foi que tudo começou?

Difícil pergunta, pois começou o quê? A vida, o mundo, o universo? Será mais fácil se formos para o final: como é que tudo termina, no Brasil?
Não é preciso ser filósofo, sociólogo ou futurólogo, para responder. Se for político, então, isto facilita bem a questão. Evidentemente, em pizza. Mas, como tudo na vida, a pizza também teve um começo, diferente para cada pessoa.
Se eu tivesse passado a infância em São Paulo, morador do Braz ou 
da Mooca, minha iniciação seria precoce.
Não foi assim, e, menino criado em diversas cidades do interior, foi meio tardo meu contato com a redonda. Na verdade, nunca havia ouvido falar de uma, até o dia que aconteceu.
Lá por volta de 50, meus pais vieram a São Paulo, e se hospedaram num grande hotel da Avenida Ipiranga, talvez o Excelsior.
Ali foi fácil: só atravessar a avenida e adentrar o Telêmaco. Descia-se umas escadas e no piso inferior ficavam mesas, em divisórias de madeira escura.
Foi então que ela surgiu, fumegante.
Seu perfume de forno, a mussarela derretida, os tomates, as bordas tostadas e crocantes.
Não havia essa permissividade de hoje, festivais de sabores salgados e doces. Ali estava uma legítima napolitana, aberta em sua simples e saborosa sensualidade, herança de misturas não só de ingredientes, mas de vários povos de culturas meridionais, num caldeirão, ou melhor, num forno.
Foi a primeira, e jamais esqueci de seu perfume e sabor. Ou melhor, esqueci, mas de vez em quando uma atual revive toda aquela sensação.
Muitos anos e pizzas se passaram. Mas, não tem jeito, pizza assim só mesmo em São Paulo. A pizza de Roma nada tem a ver. Não provei a de Nápoles, mas dizem que aqui a criatura superou o criador.
No Rio, um fiasco. No tempo em que morei lá, terra de culinária portuguesa e espanhola, o que tinha de bom eram os peixes e camarões, não tinha as pizzas. Essas tinham tudo que não deveriam ter, e sem o essencial: um belo molho de tomate, lá substituído por ketchup, e, talvez, mostarda.
Pedimos uma em Porto Alegre, e também era de arrepiar. Reivindicada também como “invenção” pelos americanos, as deles que chegaram aqui fracassaram, e redondamente.
Agora, aqui a coisa extrapolou. A pizza virou feijão com arroz, tem uma a cada esquina. Deliverys a cada passo, mas boas mesmo ainda dá para contar nos dedos.
Ainda assim, continua um bom negócio. O filho de um amigo, esse um grande redator de publicidade, tentou seguir a carreira do pai. 
Mas seu gosto pela cozinha falou mais alto: começou nos fins de semana, num forno de barro pré-fabricado, fazendo pizzas para a família. Hoje é sócio de algumas das melhores pizzarias de São Paulo, e riquíssimo, mora na bela Florianópolis, com uma pizzaria de fazer babar os Catarinas.
E de redonda em redonda, lá vamos nós, rolando com as pizzas pelos anos afora, até o ponto, onde aí sim, realmente tudo termina.

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