sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O esquivo chafariz do Pátio do Colégio

Copacabana me engana, diz o verso. Mas estamos, onde estivermos,
sujeitos a ilusões, a miragens da memória. Quando visitei a grandiosa exposição de fotos paulistanas na FIESP, em 2004, algumas dela chamaram-me especialmente a atenção.
Eram instantâneos da São Paulo que conheci, logo após seu quarto
centenário. Então, além de sua beleza intrínseca, estavam carregadas
de emoções de um jovem descobrindo um novo mundo, a metrópole de sua vida.
Uma das fotos mostrava a esquina do Pátio do Colégio com a Ladeira
General Carneiro. Ali um belo chafariz, que imediatamente acreditei
reconhecer de minhas andanças pelo Centro da época.
Um pórtico acolhendo uma estátua feminina, que em sua nudez, despeja um cântaro sobre um laguinho, datado do final do século XIX.
O desaparecido Chafariz do Pátio do Colégio!
Estava tão convicto de tê-lo visto pessoalmente, que até fiz, há uns anos, uma incursão ao local, para ver se ainda subsistia. Para constatar, em seu lugar, uma aldeia de encardidas tendas de camelôs.
Li recentemente “São Paulo de meus amores”, de Afonso Schmidt.
Sempre gostei do autor, desde que, ainda adolescente, li seu delicioso conto “Saltimbancos”, no Clube do Livro.
Pois Schmidt refere-se ali justamente ao chafariz, e com pouco carinho.
Conta que em julho de 32 - seria a exaltação dos ânimos provocada pela 
Revolução, ou simples ignorância? - o monumento foi destruído, e com muito custo derrubou-se a estátua, sob aplausos do populacho.
Mais uma vez, era a ânsia irrefletida pelo “muderno”, a estupidez acobertada pelo ufanismo de querer ser mais e maior que os outros.
Pois, se isto aconteceu em 32, como posso ter uma lembrança tão nítida do local, se nasci muito depois?
Procurei, nas páginas do livro da exposição, algo para me apoiar na minha indefensável ilusão.
Que nada: ali está a foto da fonte, mas de data muito anterior. Acho que não somente ficamos sonhando com a bela São Paulo que conhecemos décadas atrás, mas mesmo com o desconhecido, o dejá vu do jamais visto.
Miragens de obras desaparecidas, mas que por alguma falha do Tempo,
se mostram àqueles poucos que gostariam de tê-las conhecido, ao vivo.
Sob os urros da multidão, lá se foi a ninfa das águas do Colégio, para dar lugar à horrenda General Carneiro que conhecemos hoje.
E nosso Centro foi, cada vez mais, se tornado uma coleção de antigas
fotos desbotadas.

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