sexta-feira, 2 de outubro de 2009

São Paulo é fogo!

Fogo!!!

Geraldo Nunes dava o alarme: de bem longe, de seu helicóptero, já via as labaredas e rolos de fumo.

Um incêndio iniciara-se há pouco em Diadema, mas aumentava, com extraordinária fúria.

Corri à televisão; afinal, minha sogra mora não muito longe dali, e queria localizar o foco.

Na tela, uma chaga imensa: um quadrilátero de fogo corroendo o coração de um bairro proletário. O inferno abrira suas portas sobre o tranquilo lugarejo.

Parecia estarmos vivendo um 11 de setembro, embora ainda fosse 27 de março. A catástrofe estava no ar, como a fumaça tóxica, o sentimento de desgraça impregnando corações e mentes.

Plano geral: um quarteirão tomado e ameaçado pelas chamas. Mais uma explosão, e close: um barril, como um míssil, caindo inflamado, quase atinge os bombeiros. A árvore vizinha queima, como a bíblica sarsa flamejante.

Onde está o dono da indústria, que produto é que está sendo queimado? Ninguém sabe, e os jatos d’água parecem impotentes para deter as chamas. O incêndio parece não ter fim.

A cena parece do Iraque; labaredas e explosões contrastando com as ruas já calcinadas, cinzentas e desertas do bairro humilde. Minhas obrigações obrigaram-me, a contragosto, a desviar os olhos do medonho e hipnótico espetáculo.

Quando voltei a ele, cadê o incêndio?

Nada, os locutores falavam de outros assuntos; sobre a catástrofe nem mais um pio.

E isto pareceu-me quase tão chocante quanto o próprio incêndio; há algumas horas, o caos total, e agora silêncio?

Tanto barulho por nada? Está certo, o incêndio, evidentemente, havia terminado, mas sequer um registro de sua catastrófica e meteórica existência?

Se alguém ligasse a TV agora, sequer suspeitaria do horror do início da manhã.

Não foi nada, nada demais, nada aconteceu. Assim é São Paulo...

Metrópolis não pode parar, e vai engolindo e mastigando seus filhos, como o deus Saturno. Vale apenas o momento, e por mais dramático, no instante seguinte já passou. Foi deletado, ninguém mais lembrará dele.

Vamos em frente, pois atrás vem gente. Quanto à memória, parece só restar dela a bela e degradada ladeira que ainda mantém esse nome.

Fogo, horror, fumaça tóxica... agora cinzas para as cinzas, pó para o pó.

Nenhum comentário:

Postar um comentário