sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Apareceu um canário

Este é o título de uma das 200 Crônicas Selecionadas de Rubem Braga.

O velho Braga dá um show de bola, como sempre, e às vezes literalmente, atacante que era do time de Cachoeiro. Tantos assuntos, sobre tudo, até animais e pássaros. No meio deles, eis que surge, pela janela, um canário.

Pois para nós aconteceu quase igual. Deixamos sobre um beiral do corredor do quintal um potinho de água açucarada, trocado todos os dias. Não demoram a surgir os cambacicas, os colibris, os sanhaços, e até periquitos.

Mas semana passada aconteceu o inesperado. Minha mulher chamou-me, da cozinha: “Venha ver, um pássaro estranho!”. Vi que, com sua cor amarelada e cauda quase branca, tratava-se de um canário. 

Sem medo de nós, andava pelo chão numa boa, bem pertinho.
Canário, e de gaiola, concluí. Não um Canarinho da Terra, como conheci pelo interior, mas belga, um Roller, creio, pois nada entendo de canários.

Só faltaria, como no caso do Braga, ter um anelzinho na perna, com seu número de identificação da Sociedade dos Criadores de Rollers. Mas não tinha. Se algum dia teve, mandou às favas o anel, o registro, a Sociedade dos Criadores e a própria gaiola, saindo em vôo livre.

Sobrevoou, talvez, meia São Paulo. E veio, mansinho, parar justamente aqui em casa, no Brooklin, onde meu filho é veterinário e louco por aves.

Aproximei-me e ele voou para os fundos, mas logo minha esposa me chamava, outra vez: ele voltara ao chão do quintal. Por sorte tínhamos uma gaiolinha de reserva; com pouco de esforço, ele entrou e começou já a bicar os pedacinhos de bolacha que eu havia colocado.

Comprei-lhe ração adequada, e logo meu filho anunciou a novidade: era macho, pois estava cantando lindamente, com uma porção de variações em gorjeios e trinados.

Nunca fui favorável a pássaros presos, deveriam estar nas suas florestas natais, cantando os verdadeiros hinos à liberdade. Mas o mundo está bem longe de ser o que gostaríamos, e certas coisas não têm jeito.

Era um bichinho de gaiola, pela sua tolerância e mansidão não duraria muito tempo solto. 

Então, o que André resolveu, em detrimento da estética, foi colocá-lo num grande coelheiro, onde ele pode voar com bastante espaço. Não sabemos ainda se vamos ficar com ele, ou se daremos a alguém de extrema confiança.

Com um canto tão lindo, posso desculpar um pouco os fãs de pássaros cativos, pois ele alegra o ambiente, e deve ser boa companhia para uma pessoa solitária. Como era Rubem Braga, pelo que se depreende de suas crônicas. Mas para assumir ainda mais essa condição, no final ele ia dar o canário a sua irmã. Nós ainda vamos pensar no assunto.

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