sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O sabiá, o gato e o autor

Existem casas que são dominadas por seus totós e lulus, e todos se curvam a suas exigências, banhos e tosas, roupinhas e até jóias.
Outras, pelos gatos... cada qual com sua preferência, e nossa casa não é exceção.
Temos cão e gato, ambos de tamanho respeitável, e se dão muito bem.
Mas quem manda mesmo, no terreiro, são os pássaros, como num filme de Hitchcock.

Meu filho, veterinário, especializa-se em ornitopatologia, então seus preferidos, os papagaios, vem por vezes buscar cura e refúgio em casa, provisoriamente.
Uma coisa leva a outra. Papagaios em casa? E por que não alimentar também as aves do céu, que não plantam nem colhem, nem tem grades nem poleiros?

O Brooklin Novo é pródigo nelas, então além dos frascos açucarados para os beija-flores, passamos a colocar caixas com frutas para seus parentes mais alentados, periquitos, sabiás, bem-te-vis. Um belo espetáculo.

Mas dá também um trabalhão, e acaba cansando. Os pássaros fazem uma sujeirada, os recipientes têm de ser trocados todo dia, para evitar contaminações - ainda mais que os frascos adoçados passaram a ser freqüentados por outros seres alados: os morcegos, à noite, e as abelhas, de dia.

Então, com tantas coisas para fazer, acabamos limitando tais atividades. Um frasco para os colibris e um potinho de mamão para o passaredo. E em lugar baixo, a mesinha do jardim.
Mas, e o gato ? Como diria o ex-ministro Rogério Magri, gato também é ser humano.

Gato também precisa, como o cão, dar sua voltinha ao ar livre. 
Então Merlin, nosso gatão mestiço de persa também tem seu horário de passeio vigiado no jardinzinho.
E é aí que a porca torce o rabo, ou que os animais incompatíveis se encontram.

Mas nas profundezas do reino animal nem sempre acontece o previsível.
Eis-me aqui, sentado debaixo da garagem, observando o jardim no dia frio e cinzento.
Como companhia, Merlin deitado na cadeira ao lado e uma taça de vinho espanhol.

O grande sabiá se achega. Cara de pau, abanca-se à mesinha e passa a degustar suas bicadas de mamão, sem dar a menor bola para mim. Nem para o gato, a uns dois metros de distância. E este não se move, mesmo nesta insólita situação.

O sabiá se farta e voa, e Merlin impassível. 
Talvez a papagaiada doméstica tenha lhe dado certa tolerância para com os alados. Talvez, por já ter levado broncas, reprima seu instinto natural. Mas que é curioso, isto lá é. No mundo tudo é possível, felizmente.
Então, paz na Terra aos homens, e aos bichos de boa vontade.

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