sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Perdido no Novo Martinelli

Contra minha vontade, perdi os encontros dos contadores de histórias realizados no Martinelli. Mea culpa. E tanto que eu queria voltar ao velho edifício! Mas lembrei-me de um desenhista amigo, Baraldi, que trabalha adivinhem onde?

Justamente no Sindicato dos Bancários! Combinamos então um almoço 
e uma jornada pelo Martinelli, para tentar reencontrar a sala 1922, perdida, como já contei, há 42 anos.

Primeira surpresa ao entrar no prédio: os Bancários têm entrada separada, diferente do que era antes.E agora ficam onde no meu tempo era o Itau.

Mas Baraldi desembaraçou-nos na severissima portaria do prédio, tão diferente do descontrole dos anos 60. E, dos corredores agora limpíssimos e bem iluminados pelos antigos lustres, subimos ao 19° andar.

Apesar de ter bom senso de orientação, senti-me num labirinto. 
O prédio todo virou, parece, uma série de enormes repartições burocráticas. O próprio Sindicato dos Bancários também é isto, um andar inteiro de divisões e sub-divisões.

No 19° andar agora é o Contru. Balcões e divisórias por todo o andar, como num conto de Kafka. Mas, ao contrário deste, todo um imenso salão, claro e limpo, asséptico. E não conseguimos seguir adiante. Trincheiras burocráticas de balcões que não poderíamos escalar.
Cruzar aquele espaço até o canto da Libero Badaró , onde fora nossa sala, seria missão digna de um Indiana Jones.

Onde foram as salas individuais, numeradas e unidas por escuros portais e misteriosos corredores? Tudo aquilo que era pitoresco e decadente desapareceu, os espaços vazios e silenciosos substituíram o burburinho e os tipos suspeitos. Quase poderia haver uma placa de "silêncio", como nos hospitais.

Não, a sala 1922, sede do nosso movimento de nacionalização dos desenhos, não existe mais. É curioso que queríamos formar um órgão oficial, uma associação de desenhistas.

A burocracia foi muito além,o local do nosso humilde plano desapareceu, absorvido por algo parecendo a esplanada dos ministérios. Fomos parar em Brasília!

Quebrando a circunspecção do lugar, fotografamos lustres, velhos corredores e janelões, coisas que remetiam ainda ao Martinelli de 40 anos atrás. Escrivões e meirinhos nos olhavam de soslaio, sacudindo as cabeças, como se vissem fantasmas de outra era, o que não deixava de ser verdade...

Foi pena não ter podido subir aos terraços do Comendador. Hoje estavam fechados. Fica para outra, com mais preparo e antecedência.

Quem esperou 40 anos pode aguardar um pouco mais.

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