sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Na trilha dos elefantes perdidos

Era uma vez, num tempo já muito distante, um palácio oriental, cheio de estátuas e arabescos. Coisa das Arábias, das Mil e Uma Noites, ainda que ficasse em Santa Cecília, próximo ao centro de São Paulo.

Era como se fosse o Taj Mahal, a Shangri-Lá dos cinemas paulistanos. Não importava o filme, embora geralmente fossem muito bons, a sala de espetáculos já era um espetáculo em si mesma.

O Cine Santa Cecília.

Várias vezes escrevi sobre ele, e assim também outras pessoas, às vezes com versões bastante fantasiosas. É natural, seu ambiente estimulava mesmo a imaginação, e, embora há muito não mais exista, sua lenda eternizou-se.

Um fato é indiscutível: tinha, em sua sala de recepção, uma grande mesa central, com grandes patas de elefantes. E seus bancos laterais tinham, como descanso de braços, cabeças de elefante, também com suas patas como pés.

E indiscutíveis, ao menos para mim, na plateia, suas estátuas de guerreiros tailandeses, cujos olhos fosforescentes, ao som de um gongo, apagavam-se ao iniciar-se a projeção.

Um belo dia, não tão belo assim, o sonho acabou, como começara. As estátuas ferozes cerraram pela última vez seus olhos luminosos, os elefantes foram sepultados por escombros e poeira, e fez-se um grande silêncio, de espanto e consternação.

E então, acabou-se a história? Caso encerrado? Não de todo. A gente que lembra não pode deixar sepultado o tema, e escreve. Então, por sorte, muitas vezes encontra eco, não está clamando no deserto. 

Notícias aparecem; os elefantes de mogno não foram sepultados, nem mesmo se reuniram, em seu último adeus, num cemitério de paquidermes.

Como mamutes, foram temporariamente congelados, mas a seguir resgatados. 

Recebi deles notícias por meu caro Atilio Santarelli, autor de um belo blog de cinema: Os bancos laterais do Santa Cecília foram por ele vistos, no desativado Cine São Geraldo, na Penha, em 1994. Antes, estiveram armazenados no Cine Universo, também do Circuito Serrador.

As proporções eram, mesmo, mastodônticas: os bancos, forrados em courvin vermelho, tinham 4 m de comprimento, e os descansa braços elefantinos estavam em perfeito estado.

Elefantes vermelhos, de tamanho correspondente.

Foram até a ele oferecidos por Wanderley Cepeda, curador desses bens, mas onde colocar os monumentais móveis? Eu também não teria lugar.

Conclusão: os elefantes, em obediente manada, rumaram para a fazenda do Sr. Cepeda, e espero um dia vê-los e fotografá-los.

Como na Sibéria, os mamutes voltam a se expor à luz do dia!

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