Docemente constrangido, retorno ao Prédio Martinelli.
E aí, sim. Adentrei suas entranhas, até onde, um dia há 48 anos, foi nosso estúdio de desenho. O convite partira da TV Bandeirantes, que queria me entrevistar sobre minhas crônicas, e a primeira coisa que pensei foi no Martinelli.
E não deu outra, foi esta mesmo a sugestão deles. Mas seria bem diferente de minha frustrada tentativa de três anos atrás, quando cheguei ao 19º andar, mas do corredor não passei.
Desta vez, só gentilezas, a começar pelo segurança da portaria na Libero Badaró, que espantou-se ao saber que eu trabalhara ali, tanto tempo atrás.
Subimos até lá e fomos recebidos pelo Dr. Wagner, diretor do Contru, que nos escancarou as portas.
Ali, driblando mesas e cadeiras, cheguei ao nosso cantinho: o ângulo da “ladeira” São João com a Libero Badaró. O janelão de quina recebeu-me, bandeiras espalmadas.
Mas, como todas as paredes foram derrubadas, fica difícil localizar
os limites de nossa sala, e as dos amigos vizinhos. É como um labirinto ao contrário: fica-se perdido por falta dos antigos corredores, quase túneis sombrios.
Fotografei o que pude, para depois tentar reconstituir o ambiente, como um quebra-cabeças. E agora, um passeio pelos terraços do Comendador Martinelli, com suas balaustradas guardadas por pirâmides. A altura parece espantosa, mesmo para os padrões atuais.
O prédio não tem mais de trinta andares. Hoje, isto não é nada.
Dia destes, almoçando no Hortifruti da Santo Amaro, reparamos espantados no prédio em construção na esquina da José dos Santos: contei até trinta e cinco andares, depois desisti. E dizer que o pobre Martinelli causou comoção em sua época, enquanto o atual gabarito é visto como absolutamente normal.
Mas é bela a visão das sacadas do Comendador. Aqui o Anhangabaú, lá a Sé, lá o Banespa, bem mais alto. De minha emoção, não quero nem falar. Pergunta o repórter Bruno: - mas que foi que aconteceu aqui? - Melhor seria perguntar o que não aconteceu, respondi.
Romances, reuniões com jornalistas e assessores da Presidência, tiros para o ar, brigas, amor e ódio.
Mas numa coisa sinto-me ainda em casa; os modernos habitantes do prédio continuam com a simpatia dos antigos, acolhendo-nos generosamente.
A loira Gisleine, assessora de imprensa, com quem brincamos dizendo ser a loira fantasma do Martinelli, com quem eu teria namorado e ronda seus corredores até hoje, o Graco, que nos guiou pelos meandros do labirinto.
Enfim, um tour, não por um prédio, mas por uma existência: entrar ali adolescente e sair, 48 anos depois, novamente rejuvenescido.
Há 8 anos
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