A região do Moraes era muito conhecida para mim, na juventude. Um ponto intermediário entre a Barra Funda e o velho Centro. Ali está a Praça Julio de Mesquita, e eu sempre passava por ela de bonde, ônibus ou mesmo a pé, uma vez que sempre gostei de caminhar.
Então, antes de entrar no quase octogenário Moraes, vamos dar uma olhada pela praça.
Indo para a cidade, víamos à direita o Teatro Natal, com seus rebolados, de nomes picantes. Uma vez que passei por ali, estava em cartaz “Toco cru pegando fogo”.
Por aí, já se vê o nível. Secundado pelo próximo Cine Oásis, já em franca decadência e a caminho da pornografia.
No centro da praça, a bela fonte das lagostas, hoje sem elas, que foram devoradas pelos famintos da região. Aliás, a última imagem que tive dessa fonte foi num noticiário sensacionalista, em que se discutia como se reagir à abordagem policial. Ao fundo, a fonte, com pessoas agachadas sob a mira das metralhadoras.
Mas no meu tempo a praça ainda era risonha e franca, irreverências teatrais à parte.
Do outro lado, a loja Três Leões. Onde, depois de fazer um terrível teste de datilografia, prometi que nunca trabalharia em comércio, muito menos com listas de peças e preços na frente.
Vamos ao Moraes, mas antes de chegar nele, uma ótica tinha à frente como tabuleta um enorme par de óculos, como o descrito no livro “O grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald, como um símbolo marcante - os olhos de Deus tudo vêem...
Bem, aí está, desde 1929, Moraes, o Rei do Filet.
Fico pensando em quantas coisas viram os óculos da extinta ótica vizinha.
Ali esteve Adhemar de Barros, fiel freqüentador.
Também Pagano Sobrinho, morador da praça. Ali Adoniran, compondo seu Trem das Onze, in loco. São Paulo todo passou pelo restaurante, e o Moraes continua firme, como seu filet alto, praticamente um tornado, alho e óleo e generosa porção de brócolis.
Não é barato, mas vale a ida. Sua fama, pois é já um ícone da cidade, é mais que merecida.
Noutros tempos, fui algumas vezes a uma sua filial que funcionava junto ao Shopping Eldorado. Era muito boa, e próxima à Vila Olímpia, onde trabalhei.
Mas, como no caso do Ponto Chic, acho que tem-se mesmo de ir checar o original, na Julio de Mesquita, mesmo com as mazelas da região, que até servem para condimentar a aventura. Ir direto ao ponto, como o próprio filet, há 79 anos no ponto certinho.
Há 8 anos
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