Lembrei-me do livro de Garcia Marquez ao sentir na caixa, o ruído
do carteiro. Um toque discreto, sempre esperado.
E com expectativa, apanho minha correspondência.
Quase sempre, é só desgosto; contas a pagar, ofertas imobiliárias
ou demais cartões de crédito. Quando não pedidos de instituições
de caridade, que infelizmente já não posso atender: nossa cota está preenchida, com esforço.
Mas, de vez em quando, não é que surge um envelope, ás vezes de bom tamanho, e em papel pardo?... São amigos de longa data, que não recorrem à internet, preferindo as velhas cartas para se comunicar. É uma outra dimensão, e uma alegria, sentir a textura, o peso e o odor do envelope, ainda mais muitas vezes com velhos recortes de esquecidos artigos.
E a letra, marca da presença física, pessoal e intransferível
do amigo. Havia um que me escrevia ainda com sua velha Remington, como se estivéssemos na década de 60. Agora, passou a uma bela caligrafia, com caneta. Computador, nem pensar.
Outro manda-me seu fanzine, sobre os velhos gibis da infância. Será inútil comunicar-me com eles por e-mail, seria o mesmo que tentar falar em grego, ou tentar contato com outra galáxia.
Você está ficando velho, Luiz... sem dúvida. E ainda mais que, traidor, adotei a internet como meio diário de comunicação, e deveria esquecer os velhos escritos, coisas de eras passadas. Então, velho e metido.
Mas é tão gostoso receber essas antigas cartas, cheias de vida e humanidade, tão distantes dos fantasmas virtuais, de que falei outro dia.
Alguns correspondentes aderiram aos novos meios: um que escrevia a mão, lá do sul, passou a mandar arquivos impessoais, fotos com alguns grunhidos substituindo seus animados textos.
Não é a mesma coisa. Passou a ser bem menos íntimo e humano. E bem mais descartável.
As velhas cartas... felizmente, ainda chegam, embora cada vez mais raras. Um dia, não virão mais. E aí, somente contas, prospectos, propaganda de bancos e imobiliárias...
Há 8 anos
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