Tem-se falado muito, neste site, dos saudosos cinemas da velha São Paulo. Falou-se muito da Cinelândia, da Pça. da República, do Lgo.Paissandu. Ao invés, prefiro recuar alguns quilômetros, para falar do meu cine inesquecível.
Quando minha mãe, meu irmão e eu viemos para São Paulo, em 1955, fui estudar no Colégio de Aplicação Presidente Roosevelt, na R.Gabriel dos Santos, próxima á Av.Gen.Olímpio da Silveira, continuação da São João. Fiz ali o colegial em curso noturno, pois com a morte de meu pai se fazia necessário trabalhar, ganhar a vida.
A dois passos do colégio ficava o Cine Sta.Cecília. Era pequeno, embora passasse os bons filmes do circuito. Sua fachada ostentava vitrines, com os cartazes. Mas entrando, é que estava reservada a grande surpresa, por sua decoração barroca.
O que evocava? A Índia, com certeza, mas também Bali, Sri Lanka, Kuala Lumpur. As paredes eram forradas, talvez, de tecidos com desenhos e relevos orientais. A mesa grande central e as poltronas tinham grandes pés de elefante. As cortinas e lanternas tinham algo de luxuriante tenda mourisca. Isto na recepção. Entremos, então,s ob o som de músicas clássicas,c omo os "Pescadores de Pérolas".
A sala de projeção era guardada, pelos dois lados, por uma fileira de estátuas de guerreiros siameses, de feroz expressão. Quando, a toques suaves de um gongo, as luzes iam se apagando, a última coisa a desaparecer eram os brilhos dos olhos fosforescentes dos guardiões.
Assisti muita coisa lá. Afinal, se por mais não fôsse, era o cine mais próximo de nosso apartamento, excetuando o também notável Cine São Pedro, agora teatro. Lembro-me de filmes de cowboy; do "Principe e a Corista", com Marylin Monroe; do musical "Oklahoma", com Shirley Jones; "As noites Brancas", com Mastroinni; da série "Pane,Amore e...", de Vittorio de Sica.
Toda essa pequena maravilha foi completamente destruída, para dar lugar a nada, no início dos anos 60. Não cheguei a ver seu final, ainda bem, pois nesta época havíamos comprado um sobradinho no Planalto Paulista, e essas regiões de Perdizes e Barra Funda passaram a ser, para mim, pouco mais que pontos de eventuais passagens.
Meu cine favorito foi mais uma vítima desse tipo de "progresso" desumano e ganancioso que assolou nossa cidade. Pois é, agora não tem volta. Sequer consegui achar, pesquisando, uma foto que pudesse evocar um pouco do seu encanto.
Há 8 anos
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