“E agora?”, pensou o Diniz. “Em que sinuca de bico fui me meter...”.
Não havia como escapar. Tinha dado sua palavra ao Tião, meu redator, mas seu mentor na agência MPM, da Rua General Jardim.
Dos sanduíches mastigados no boteco da esquina, até um almoço no Grande Hotel Ca’ d´Oro, havia uma imensa distância para ele, embora a Vila Buarque não estivesse tão longe assim da Rua Augusta. Não tinha mais jeito.
Todo mundo apostara que o Tião não conseguiria o feito. Afinal, o Diniz era um muquirana de carteirinha. Mantivera a sovinice dos pais – esta, motivada por necessidade -, o que não era o seu caso. O velho Diniz, seu pai, deve ter dado muito duro, mas, afinal, lhe deixara um bom montante em grana e, embora riquíssimo, continuou a tradição familiar. Diniz mantinha as mãos longe dos bolsos e cerradas, não pagando nem cafezinho para ninguém.
Um outro colega, metido a economista, certa vez calculou-lhe as posses. E ficou espantado: tinha diversas casas alugadas e muito mais dinheiro em espécie de que supunha nossa vã filosofia.
Mas havia o Tião, com sua sensatez e discrição, a quem muitos pediam conselhos, tal sua aura de guru. E Diniz tinha por ele muita consideração. Então, se houvesse alguém capaz de convencê-lo a tão tresloucado gesto, certamente era o Tião.
E dito e feito: o Burgúndio, ou Medo-Persa, como chamávamos o avarento, por sua barba negra de pirata, acabou se rendendo. Fizemos as reservas e, no dia aprazado, de paletó e gravata, lá fomos ao venerando hotel.
O Ca’ d´Oro... Lembro-me dele, embora nunca tivesse entrado ali, na Rua Basílio da Gama, a meio caminho entre o Almanara e a Galeria Metrópole, pegado ao bem mais modesto restaurante Giovanni, que ainda permanece.
Depois passou à Augusta, com o lado de trás dando para a Avanhandava, em sua parte pobre, pois ali fica a fronteira de dois mundos. A Avanhandava começa como um belo bulevar, em grande parte pertencente à família Mancini, mas é só cruzar a Martinho Prado para despencar no terceiro mundo.
E agora estávamos às portas do Ca’ d´Oro, carregando o ainda reticente Diniz. Mas não tardou em quebrar-se o gelo, como manda o figurino, com um belo Ballantines on the rocks no seu nobre bar. Depois, passamos ao salão, com tudo de direito, inclusive o famoso Bollito Misto, em salva de prata.
Justiça seja feita: Diniz comportou- se muito bem, e, se teve algum constrangimento, de forma alguma demonstrou. Pagou sua parte, sem queixas. Tiramos fotos - infelizmente não as tenho - para documentar o evento, e retornamos à agência, para a faina diária.
Jamais ele proferiu uma palavra, quanto mais uma queixa em relação à despesa, mas imagino que tenha passado um bom tempo vivendo de pastéis de vento, para compensar o prejuízo.
Há 8 anos
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