O Léo está para as outras choperias como a Castelões está para as demais pizzarias.
São ícones, padrões para o restante do mercado. Não só pela tradição, mas pela qualidade que sempre exibiram ao longo de tantos anos.
Não sou botequeiro, nem chopeiro contumaz. Acho, que mesmo assim, posso falar do venerando bar, pois houve uma época em que almoçava nele quase todos os dias.
E dele recebia cartões de Natal em casa, com a marca do leãozinho.
O local onde se situa parece estranho, em plena Boca do Lixo. Esquina de Aurora com Vitória... região antiga e feia, bar sem estacionamento próprio, pequeno e apertado.
Mas talvez essa simples autenticidade seja seu melhor atributo, já que seu ótimo chope tem rivais à altura, pela cidade.
Conheci-o em 68, quando fui trabalhar na agência Lintas, pequeno prédio na esquina de Brigadeiro Tobias e Senador Queiroz, pegado ao DEIC. Não havia muitas opções de almoço por ali, e o Léo, bem perto, era portanto sob medida.
Quando nos abancávamos nas mesas coletivas, éramos recebidos como amigos. O hoje lendário garçom Luís, baixinho, cabelos já brancos nessa época e grossas sobrancelhas negras, chamava todos pelo nome. Eu era o Xará.
Nas paredes e prateleiras, bolachas e canecas de chope de todo mundo. Atrás do balcão de mármore, a enorme chopeira de latão dourado, com uma longa serpentina indo direto às torneiras, manejadas à perfeição pelo Laércio. No alto, vitrais coloridos, para alegrar o ambiente austero.
Tinha então uma cristaleira no centro do salão, repleta de velhas canecas. Eu achava tão típico, e tão ligado à nossa firma que propus que a foto da equipe fosse tirada lá, quando de um Natal. Mas acabei não sendo ouvido.
Era freqüentado por uma estranha e variada fauna, e também muitos eram clientes diários. Waldick Soriano, de chapelão e óculos escuros, sempre ao balcão. Investigadores de polícia, atrizes pornô, pessoal vindo das produtoras e distribuidoras de filmes, outra tradição do bairro.
O menu, simples, variava o prato a cada dia, sendo o mais o concorrido seu famoso bacalhau das sextas feiras. Mas os ótimos canapés de entrada, mesmo agora, dão-me água na boca. E creio que as coisas continuam as mesmas, embora há muitos anos que não compareço. Num sábado, fiz uma tentaviva. Passei de carro com a família. Mas era tal o burburinho e a multidão, mesmo de pé, fora do recinto, tomando a rua, que acabei desistindo.
De outra, confundi-me com o emaranhado de estreitas ruas, de tristes fachadas, segui em frente e fomos comer em outra freguesia. Fomos
a sucedâneos, bares inspirados pelo Léo: o Bar do Nico e Monumento, no Ipiranga, o Frederico, em Moema, que tem na parede a caricatura e a foto do garçom Luís, quando de uma visita. Mas ao Léo, mesmo, não mais.
Mas ele continua lá, como sempre foi, numa esquina perdida e decadente da minha memória.
Há 8 anos
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